O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou recentemente dados alarmantes sobre o trabalho doméstico e de cuidados no Brasil, evidenciando profundas desigualdades de gênero e raça nesse setor. Em seminário realizado em 19 de março de 2025, que marcou o Mês da Mulher, foram apresentados estudos que destacam a urgência de políticas públicas voltadas para a valorização e proteção desses profissionais.  
Perfil das Trabalhadoras Domésticas e Cuidadoras no Brasil
De acordo com a “Pesquisa Nacional sobre Trabalho Doméstico e de Cuidados Remunerados”, realizada pelo Ipea em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), 69,9% das pessoas que atuam no trabalho doméstico e de cuidados remunerados são mulheres negras. Além disso, 93,9% dos respondentes da pesquisa eram mulheres, enquanto 6,1% eram homens. Esses números ressaltam as desigualdades estruturais presentes no país, onde a interseccionalidade entre gênero, raça e classe social se manifesta de forma evidente. 
Outro dado preocupante é a escolaridade dessas profissionais: 52,4% das trabalhadoras domésticas negras não concluíram o ensino médio, em comparação com 42,9% das não-negras. Essa diferença educacional reforça as barreiras enfrentadas por essas mulheres no acesso a melhores oportunidades de trabalho e renda. 
Subutilização da Força de Trabalho entre Mulheres Negras
O estudo também revelou que, no primeiro trimestre de 2021, 42,8% das mulheres negras estavam em condição de subutilização da força de trabalho, contra 29,1% das mulheres brancas. A subutilização abrange situações como subocupação por insuficiência de horas, desocupação e desalento. Especificamente, 7,3% das mulheres negras estavam subocupadas por insuficiência de horas, enquanto entre as brancas esse percentual era de 4,4%. Além disso, 4,6% das mulheres negras estavam em situação de desalento, comparado a 2,1% das mulheres brancas.  
Licença-Paternidade: Dados Escassos e Desafios
Outro ponto abordado no seminário foi a falta de dados nacionais sobre a licença-paternidade. Enquanto há registros consistentes sobre a licença-maternidade, a ausência de informações sobre a participação dos homens no cuidado familiar dificulta a formulação de políticas públicas que incentivem a equidade de gênero nesse aspecto. Entre 2016 e 2022, foram registrados casos de licença-maternidade concedidas a homens, principalmente em situações específicas, como falecimento da mãe ou casais homoafetivos masculinos. 
Importância de Políticas Públicas de Cuidado
A presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, enfatizou a necessidade de transformar o cuidado em uma política de Estado. Ela destacou que o cuidado é frequentemente visto como uma responsabilidade feminina, quando deveria ser compartilhado pela família, sociedade e Estado. A implementação de uma política nacional de cuidados é essencial para promover a igualdade de gênero e assegurar condições dignas de trabalho para as cuidadoras e cuidadores. 
Os dados apresentados pelo Ipea revelam a urgência de políticas públicas que enfrentem as desigualdades de gênero e raça no trabalho doméstico e de cuidados no Brasil. É fundamental reconhecer e valorizar a contribuição dessas profissionais, garantindo-lhes condições de trabalho dignas, salários justos e proteção social adequada. Somente assim será possível construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos.